Na contramão da Fifa, Uefa proíbe venda de álcool
em estádios
7/3/2012 12:52,
Por Redação, com BBC – Brasil
Enquanto a Fifa pressiona o
Congresso brasileiro para permitir a venda de bebida alcoólica em estádios
durante a Copa do Mundo de 2014, a Uefa segue o caminho oposto e proíbe a
comercialização de álcool em seus eventos na Europa. Na terça-feira, a comissão
especial da Câmara dos Deputados aprovou o projeto da Lei Geral da Copa, que
permite a venda de cerveja, em copos de plástico, em todos os setores dos
estádios durante a Copa do Mundo de 2014. Nas áreas VIPs, outras bebidas
alcoólicas serão comercializadas segundo o texto, que ainda depende de novas
votações no plenário e no Senado e da sanção presidencial.
A decisão é diferente da medida
adotada pelos organizadores da Eurocopa deste ano, que será realizada na
Ucrânia e na Polônia. A proibição à venda de bebidas está no estatuto de
segurança adotado em 2006 pela Uefa – a entidade europeia de futebol que é responsável
pela Eurocopa e por outros dos torneios mais lucrativos do mundo, como a Liga
dos Campeões da Europa e a Liga Europa. A restrição vale apenas para eventos da
Uefa. Fora do âmbito da entidade, cada país europeu trata a venda de bebida em
estádios de forma diferente.
Na Alemanha, a venda de bebida
alcoólica é totalmente liberada em todos os jogos do campeonato nacional. Já na
Itália, a comercialização é proibida em todos os jogos de futebol. A Inglaterra
adota um sistema misto para a Premier League, que permite que torcedores bebam
durante determinados períodos e em partes do estádio com visão restrita do
gramado. Em tese, a venda de bebida é proibida em todos os jogos de futebol
ingleses, mas os estádios recebem licenças especiais, que permitem a comercialização
15 minutos antes do começo do jogo, nos 15 minutos anteriores ao final do
primeiro tempo e nos 15 minutos após o início do segundo.
Diferenças
Apesar de a Eurocopa e a Copa do
Mundo serem eventos esportivos muito semelhantes, a Fifa e a Uefa adotam
argumentos bastante distintos para defender posições opostas sobre a venda de
álcool em estádio. Em uma audiência na Câmara dos Deputados, em novembro, o
secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, disse que o consumo de bebida
alcoólica em estádios nunca causou problemas em Copas do Mundo. Ele diz que a
entidade tem uma parceria com a cervejaria Budweiser para venda controlada de
cervejas nos estádios da Copa, o que significa que é obrigatório usar copos de
plásticos.
O professor de direito Geoff
Pearson, da Universidade de Liverpool, avalia que a proibição da Uefa é baseada
no senso comum de que bebida alcoólica leva à violência nos estádios e que é
mais conveniente para a entidade estabelecer uma regra geral, em vez de
analisar caso a caso. Pearson acrescenta que a diferença de postura entre a
Fifa e a Uefa pode ser meramente um reflexo de opiniões distintas dos
indivíduos que comandam os comitês de segurança de cada órgão. Mas ele não
descarta a influência de interesses comerciais. ”Pode ser que a cervejaria que
patrocina a Liga dos Campeões seja muito menos ‘institucionalizada’ na Uefa,
enquanto a patrocinadora da Copa do Mundo pode pensar: ‘nós temos que pagar
milhões de dólares para vocês, e nós não podemos nem vender nosso produto no
seu estádio, porque você acha que isso pode gerar hooligans descontrolados’.
Não seria o melhor tipo de marketing para uma cervejaria”, diz Pearson. ”Não
tenho dúvida de que existe pressão comercial para permitir a venda de cerveja”,
acrescenta o professor de direito. Ele ainda aponta outro fator contraditório
na política da Uefa. Em eventos como a Liga das Campeões, é permitido o consumo
e venda de bebidas em áreas VIP e executivas. ”Se você paga uma certa quantia
pelo seu ingresso, eles confiam que você pode beber, mas um torcedor comum,
não”, argumenta.
(...) ele diz que o esforço da
Fifa para liberar a venda pode gerar um ônus maior para as autoridades
brasileiras, que são responsáveis pela segurança durante a Copa do Mundo.” O
comitê organizador da Copa e as autoridades brasileiras são responsáveis pela
segurança nos estádios, não a Fifa”, disse à BBC Brasil o especialista, que já
trabalhou como consultor de segurança para a Uefa. ”Como isso pode ser assim? A
Fifa diz ao Brasil: ‘vocês são responsáveis por segurança, mas vocês precisam
vender cerveja nos estádios, querendo ou não’.”
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