É aos 12 anos que os adolescentes começam a
experimentar substâncias que causam dependência e podem ser a porta de entrada
para outros tipos de droga. Veja como prevenir.
Revista Cláudia - Suzana Lakatos e Fábio Mello
Quando se pensa em drogas, poucas famílias percebem
o perigo de substâncias que estão ao alcance do adolescente, às vezes na
própria casa, como bebida, medicamento e cigarro. O fato de serem legais faz
com que os riscos sejam minimizados e cria um terreno propício para o uso
precoce. “No mundo, o período crítico dessa iniciação é dos 12 aos 16 anos, mas
no Brasil ela se concentra entre 12 e 14 anos”, aponta o pneumologista Sérgio
Ricardo Santos, coordenador do Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do
Tabagismo (PrevFumo), da Unifesp. Além da precocidade, o padrão de consumo
também preocupa.
Dois estudos sobre o perfil e a ingestão de drogas
no país trazem dados importantes. A boa notícia é que a incidência da
experimentação vem diminuindo graças a fatores como o aumento de informação por
parte da população, maior inclusão escolar e o envolvimento crescente das
escolas na prevenção; a má é que os relatos de uso freqüente (seis ou mais
vezes no mês) nesse grupo aumentaram. O II Levantamento Nacional sobre o
Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio
da Rede Pública nas 27 Capitais Brasileiras, de 2004, e o II Levantamento
Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, abrangendo as 108
maiores cidades brasileiras e publicado em 2007, foram conduzidos pelo Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), do departamento
de psicobiologia da Unifesp, sob supervisão do professor Elisaldo Carlini. Ele
lembra que as drogas, lícitas ou ilícitas, causam dependência e fazem mal à
saúde.
Proteção, prazer e risco
Também a motivação para o uso é a mesma: a busca de
gratificação imediata. “É uma característica da sociedade atual, cujo
consumismo cria a expectativa de que todos os desejos se realizem em curto
prazo, de preferência no shopping mais próximo”, afirma Hélio Deliberador,
coordenador do curso de psicologia da PUC-SP. Mas, se parece impossível mudar a
sociedade de uma hora para outra, os pais podem ficar alertas a alguns fatores
que aumentam ou diminuem o risco de o filho se envolver com drogas. E devem agir
bem depressa em caso de perigo.
Pais que não usam drogas, estão atentos ao filho e
cultivam o diálogo e o respeito ajudam o adolescente a se manter longe das
drogas, acredita o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de
Pesquisa em Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Unifesp. Na outra
ponta, o desafio é suavizar o impacto dos fatores de risco. Significa, por
exemplo, apoiar o filho na superação de dificuldades escolares – o problema que
mais vezes aparece associado ao consumo de todos os tipos de droga. Um segundo
grupo que precisa de atenção é o dos portadores de transtornos de ansiedade,
como hiperatividade e déficit de atenção. Eles se envolvem mais freqüentemente
com essas substâncias. A presença de usuários de drogas na turma de seu filho
também deve mobilizar a família. Proibir a amizade pode levar o adolescente a
mentir para não perder contato com o amigo. É mais eficaz transformar sua casa
em ponto de encontro e ficar de olho. Eventualmente, uma conversa com os pais
do amigo funciona. É bom ter claro que o adolescente não é capaz de avaliar as
conseqüências dos seus atos. Cabe à família impor limites e saber com quem ele
anda, como e onde se diverte. Diante da constatação de que o jovem usa drogas,
é preciso questionar honestamente sua capacidade de protegê-lo. “O erro maior
das famílias é adiar uma atitude em vez de buscar ajuda especializada”, diz
Laranjeira.
Na hora de abordar o assunto, a melhor forma de ser
ouvida é munindo-se de informação. “Apresentar dados concretos sobre os danos
ao organismo funciona mais do que uma abordagem moralista”, recomenda o
psicólogo Raul Aragão Martins, professor do departamento de Educação da Unesp,
em São José do Rio Preto (SP). Em 2005, ele realizou o estudo Uso de Bebidas
Alcoólicas entre Adolescentes e atualmente pesquisa o que influencia o consumo.
Chegou à conclusão de que, para o jovem, essa é uma escolha pessoal, sobre a
qual não reconhece a autoridade dos pais. Saber disso ajuda a evitar posturas
autoritárias, que provocariam uma reação de desafio.
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